Encruzilhada

21:27


Um pé depois do outro. Outro depois de um pé. Tento arrastar-me por longos percursos de espaço, de tempo, mas não me consigo fazer valer. Parece que quanto mais fujo mais me prendem as pernas, e um pé depois do outro, ou até mesmo outro depois de um pé, torna-se impossível. Tudo me cai em cima, parece que o é assim, e eu tento habituar-me ao correr sem me mover.

E aqui estou eu em mais uma encruzilhada.

Por um lado posso seguir para trás. Voltar àquelas épicas discussões que levavam horas, horas, a desenrolarem-se. Pareciam novelos infindáveis de existencialismo especial, tão especial para mim. Tenho saudade das tardes de satisfação cultural, rodeadas de esplêndidas novas maravilhas, nunca antes conhecidas por alguém como eu, leigo. E as noites...

Por outro lado posso seguir em frente. Rebentar com todos os parágrafos que escrevi até hoje. Receber uma lufada de ar fresco, cheia de tudo o que não me diz nada, mas que tão bem me faz. Posso ter o atrevimento tão estranho em mim e enveredar pela escolha de alguém novo, alguém nunca fez parte de mim, e que me pode alimentar com novidades, não culturais, não informativas, mas existências, de vida.

Posso escolher por dois caminhos. Posso escolher duas pessoas diferentes e esperar, com a ajuda de quem me possa acudir, que alguma delas seja a correcta escolha. Posso escolher, mas não consigo. Por favor, não me peçam para escolher. Simplesmente, digam-me o que escolher.

As minhas palavras estão cada vez mais simples.
Para quê escrever?

César Gouveia

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