A Mensagem de um Jangaz

16:45

Olho pela janela e vejo o gelo a querer atacar-me. Quente, quente, não consigo respirar. Saio à rua e a premonição não é boa. Tudo o que tenho voa pelos ares, triste desconhecido que me levas o ego - e as roupas. Cansado, exausto do ócio da travessia, não sei o nome do que mais gosto. Olho em volta e as ruas começam a agradar-me. Regozijo a diferença, a novidade, o barulho, o movimento, a cor - será a falta dela? Volto para o calor da multidão, sozinho. Olho em frente e... Nada mais interessa. Estou em casa, estou onde sempre estive, oiço o que sempre ouvi, vejo o que sempre vi. Repito-me, revivo-me, encontro-te. As horas passam, o tempo voa, tudo o resto fica. Fossemos nós outros e tudo seria diferente, mais enredado, mais entrelaçado. Fosse eu outro...

Acaba o tempo e o gelo volta a olhar-me através do vidro da janela. Quente, quente, suporto a tortura da volta, o cansaço do retorno. Fica apenas a facilidade de nunca se estar longe, de se acompanhar todos os passos, de a distância ser inexistente - ou pelo menos maior em outras situações. Fica a segurança de que, mesmo com a natural e esperada apartação, o ponto de início seja sempre o mesmo, seja sempre fiel. Mesmo que inexistente.

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