Quimera

23:25

Queria sonhar mas não conseguia. Como se estivesse ficado sem imaginação do dia para a noite. Como se deixasse de pensar naquelas utopias infantis de astronautas, bombeiros, policias... Mas nada! Sentia-me fraco, sem poder pensar no que fazer, pensar no que dizer, pensar ao que recorrer... Era muito mais forte que eu a vida que me abrangia como uma flor acolhedora da sua beleza desnecessariamente sonhadora. A vida continuava e eu sem reacção; ali, quieto que nem um rato como se tudo o que se passava à minha frente fosse maior que eu, como se eu fosse impotente a uma situação que era claramente controlável. Eu, na minha receosa imensidão, não tento, não arrisco, não provoco o meu próprio futuro, apenas o deixo passar. A minha filosofia sempre foi simples, o futuro não existe nem nunca existirá porque quando lá chegarmos ele será presente, então para quê dar-me ao trabalho de sequer me erguer se nada posso fazer para mudar o futuro, se ele na realidade (espero) não está destinado de princípio?
Infelizmente esta história não tem final feliz, apenas mais uma noite sem sonhos (e já era bom que pelo menos o sono me visitasse uma vez que fosse), mais um dia de infertilidade quimérica sem extravasão de sentidos.
Alfredo de Sousa

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