Incompreendido

22:04

Nunca ninguém, ao olhar para mim, percebe do que gosto. Os mais eclécticos, realmente conhecedores da verdadeira música, olham para mim pela primeira vez e vêem, apenas pela minha aparência exterior, um inconsequente amante da pop vazia, oca e pouco trabalhada (como poderiam estar mais enganados?!). Já os apaziguados, pouco centrados num conhecimento mais profundo, olham para mim e vêem-me como um esquisito que não consegue entrar na onda e que odeia essa popularizada música apenas porque se achar mais inteligente que os outros. Mas ninguém, nunca ninguém, ao olhar para mim pela primeira vez me vê com os olhos inteiros. Apenas vêem uma parte de mim, uma pequena fracção da potencialidade que eu, assim como toda a gente, tem.

É verdade que a minha mesquinhez se torna raivosa quando vejo que algumas bandas, com cada vez um maior acréscimo de adeptos, se servem da música, se servem de arte, apenas para caírem nas boas graças de adolescentes inconsequentes cujas hormonas não podiam estar mais desreguladas.

Mas não nego nenhum estilo de música antes de o reconhecer. Eu gosto de viajar, comigo mesmo, por entre diversos países cujas nacionalidades se traduzem em nomes musicais, restias da cultura imaginada por milhões de pessoas e anos.

Não vivo sem receber a inspiração vinda do meu adorado post rock; a tranquilizadora tranquilidade que o baroque rock me faz sentir; a felicidade que o ska e o reggae me transmitem; a agressividade do industrial metal; a facilidade de perder o tempo, e a mente, através do british pop; a alegria que me nasce ao ouvir pop, o qual se nota ter levado um trabalho sério por trás (Vampire Weekend, por exemplo); a mal denominada world music (apenas por não ser de origem anglo-saxónica passa a ser inserida num grupo musical cujos subestilos em nada se assemelham?!) que me dão vontade de percorrer o mundo à procura dos melhores artistas, como por exemplo no flamenco, música judaica, elementos de música cabo-verdiana, e o nosso querido e saudoso fado; certas quantidades de grunge emocional; infelizmente destesto punk e não compreendo o hip-hop; a música clássica que tanto me apraz; o jazz que me elucida e refresca; mas acima de tudo o meu venerável indie -rock, que me satisfaz em todas as situações!, enaltece-me a confiança no facto de o ser humano ser capaz de criar algo maravilhoso e perfeito, sem ter como segunda intenção qualquer tipo de reconhecimento e limitando-se a seguir as suas convicções e ideologias!

Mas não me alongo mais. Acabo com o começo. Nunca ninguém, ao olhar para mim, percebe do que gosto. Sou um incompreendido que não satisfaz a todos, não satisfaz a ninguém. Recolho-me a um canto e insisto em procurar por novos elementos musicais para adicionar à minha crescente lista, procurando ser o mais completo possível, tentado compreender os outros quando os vejo à primeira vista para que não cometa os erros que são cometidos comigo.

Adeus.

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1 palavra(s)
mordaz(es)

  1. Sempre achei muito dificil discutir música e descrever-me num só estilo.

    E sempre me pareceu que muita gente acha que o "ouvir um pouco de tudo" é não ouvir nada.

    Mas a arte está em nós. Não precisamos da compreensão dos outros se estamos cheios por dentro, com todas as melodias que nos embalam os sentidos.

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