o cosmos disse

13:04

Algumas horas da tarde, na verdade
não interessa.

Enquanto me dirigia para lá recebi a alarmante notícia, Ela também estaria no concerto. Então chegaram até mim arrepios estridentes e esboços de sorrisos forçados. Mas decidi que não ia estragar a tão agradável noite, e fim de tarde, com estranhos e mal colocados sentimentos passados. Esforcei-me para rir do fundo, mostrar alegria rejubilante, correr atrás de mosquitos como se fossem incríveis vilões da nossa infância..., e consegui! Senti-me feliz, calorosamente feliz por partilhar tais fúteis momentos, apenas por estar com quem me apraz. No entanto, sempre que virava a cabeça encolhia-me ao ver alguém similar à sua forma e feitio.


22h00
Comecei por comprar algo que me aquecesse por dentro, para preencher a lacuna que lá se tinha instalado. Oh ingenuidade minha, que ainda não aprendi que bebida nenhuma nos acolhe tanto como uma inspiradora música, que se revela maravilhosa pelos dedos de grandes pessoas, tão presentes ali em cima.
E foi aí, nesse preciso momento, entre luzes brilhantes e acordes conhecidos, que o meu espírito se revoltou e ganhou vida própria. Fez-me abraçar-me a mim próprio, ainda que mentalmente, por falta da presença de quem queria realmente envolver com o meu corpo. De repente encontrei-me sozinho num recinto nefastamente isolado, apenas eu e ninguém, apenas a música a preencher o fundo, e o espaço cá dentro.


Alguns minutos depois da meia-noite,
ou seriam alguns minutos para o fim do
(meu) mundo?

É espantoso ver como grandes músicos têm a capacidade de nos fazer mudar de ideias. A nostalgia acomodou-se no meu espírito e fez-me acabar com a misantropia. Agora, cada vez que virava a cabeça esperava vê-la, poder dizer-lhe o que as palavras não têm capacidade de compreender e abraçá-la, como me abracei a mim. Deitei-me na relva, à espera que o cosmos me falasse, me dissesse o que fazer. Uma voz muda chegou-se então a poucos centímetros dos meus surdos ouvidos e, com palavras cheias disse, Réstias de saudades, melancolias inacabadas. Serve-te do sono como arma. Ele liberta-te e deixa-te sentir.

César Gouveia

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1 palavra(s)
mordaz(es)

  1. Ora bem, foi com agrado que li o teu comentário no meu blogue. Escrevo naquele espaço com uma amiga minha há quase dois anos e tenho-o com todo o gosto. Não o faço para agradar a ninguém, fico sempre satisfeito quando demonstram que gostaram do lá está escrito.

    Well, eu gostei imenso dos teus textos. Especialmente deste, não sei explicar o motivo ao certo. Talvez por me dizer algo.
    E tenho a dizer que fiquei encantado com o site de fotografias. São da tua autoria, certo?

    Bem, um abraço (:

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