Abertura

21:01

Deixei a alma falar. Libertei tudo quanto tinha cá dentro – mentira, nunca serei capaz de o fazer – mas a libertação deu-se porque já não havia espaço para prender o que tanto me ocupa o pensamento. As palavras começaram a surgir e eu, preso dentro da minha mente, vi um estranho utilizar a minha voz. Um fantasma enrolou-se à volta da minha língua e deu asas às palavras, que cada vez mais me traem…

Um dia ainda vou perceber qual o motivo de não largar a muralha mais vezes.

Revelo-me perante pessoas que me conheceram durante anos sem reparar que o estou a fazer. Talvez tenha sido por me ter sentido bem pela primeira vez em muito tempo. E só me deparei com o que estava a fazer quando parei um pouco, olhei em redor e vi que estava a desabafar – primeira vez por iniciativa própria, salvo terrível erro. Mas erro cometi eu ao parar e olhar em redor…, quebrei o fluxo que se tinha estabelecido.

Já percebi. A muralha ajuda-me a superar tudo com apenas metade do sofrimento. A muralha cai, as flechas trespassam-me.

Já me tinha conformado com todas as possibilidades. Frieza total, calor arrebatador. No meu âmago,  tudo o que acontecesse viria amortecido por rebatimentos sucessivos em paredes construídas propositadamente para qualquer acontecimento. No entanto, a vontade extrema voltou a assombrar-me, não me deixando concentrar em qualquer outro assunto. O dispersar momentâneo de ideias é prova disso.

André F.

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1 palavra(s)
mordaz(es)

  1. Surpresa. Para quê medos? Para quê especulações? Afinal, fluidamente sabem-se as verdades e as palavras descobrem-nos. Pelo menos parte.

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Palavras mordazes? Escrevam-nas aqui!

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