A Febre Apoderou-se de Mim

Quarta-feira

Vais fazer alguma coisa no domingo?. Não, ou melhor, nada de especial., talvez vá estudar um pouco., tenho teste na segunda. Então podias vir até minha casa., vai dar um filme muito interessante e vêm cá mais algumas pessoas. Parece-me uma boa ideia., a que horas é o filme? Começa à uma e meia. Muito bem, fica combinado.

Domingo

Olá., ainda bem que vieste., entra, só já faltavas tu. Olá., e desculpa o atraso. Não há problema., o filme já está a começar. Eu esqueci-me de te perguntar, qual é o filme? Chama-se 'The Fever', realizado por Carlo Gabriel Nero. Não conheço., espero que seja bom. Já vemos se gostas ou não.

Indeterminação do tempo

O futuro não se acalmou e mostrou-me, nos primeiros segundos que se tornavam presente sem que nos apercebêssemos, que este seria um filme que invocaria em mim sentimentos de pena, culpa, desespero, tristeza, compaixão, revolta... Tudo o que ninguém quer sentir ao ver um filme, quando tal acto apenas se desenrola para que o tempo se desenrole sobre si mesmo.

Como posso eu preocupar-me com algo tão inútil, tão fútil como o medo de perder alguém por entre as folhas atormentadas de uma espessa árvore - frondosa árvore que os levas a todos - ao saber que em algum outro lugar milhares de pessoas são atacadas pela minha cobardia, pelo meu egoísmo, pela minha vontade consumista, capitalista.

Não consigo pensar em algo que não seja o sofrimento de tais pessoas, quando comparo o seu desespero ao meu, sendo este último (o que a mim me diz respeito) tão inútil, tão fútil... O medo de perder alguém que, na verdade, nunca foi meu.

E que posso fazer eu?