Balanço

19:31

     São os minutos em que o mundo desaparece, esses breves e necessários minutos, que me resguardam no tempo. Porque a vida é mais sentida a cada passo que se dá e os recuos são tão gratificantes como qualquer avanço. Ouço a grandeza de outras vozes num lugar que de tão exótico se torna na casa perfeita. Para cada nota há um balanço - sei que o há - e se apenas conseguisse mostrá-lo a qualquer outra alma... Não seria de certo possível já que cada passo tem um ritmo diferente. Ou talvez a resposta seja mais facilmente recolhida com a projecção desta luz incessante que me acolhe no seu regaço. Monstra cruel que me traz lavado em lágrimas, mesmo que sejam só as que caiem do céu... Venham elas de onde vierem, não resistem e agrupam-se todas no chão - ainda que apartadas pelos meus movimentos de gigante. Mas o balanço e as vozes continuam sempre. Os olhares prostrados, por sua vez, viram-se para mim com medo que lhes assalte qualquer segredo mais descuidado. Eu apenas avanço com o balanço e ignoro a sua rigidez. Lembro outro mundo, quase paralelo a este - apenas se intersecta por minha vontade - e carrego-o num braço como se não tivesse peso. Pergunto-me se os podia sobrepor, um exactamente por cima do outro, e percorrer cada rua em simultâneo. A resposta chega-me na saudade e diz-me que não. Eu apenas uma coisa posso fazer: levantar-me e dizer que um dia o farei. Por agora bastam-me as vozes...
...e o balanço.

Pherreyra, o Segundo

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