Tarde

São já horas de me ir embora. Olho mais uma vez para o relógio e fico sentado. Não tenho coragem de o fazer. Estou farto deste lugar, deste banco sujo, desta mesa peganhenta, destas paredes de barro putrefacto. Para as pessoas à minha volta resta-me apenas raiva, angústia, rancor... Não tenho mais paciência para a sua intelectualidade puritana, para o seu medo do erro. É das pessoas que conheço há mais tempo que me quero ver livre. Fazem-me mal, deprimem-me, levam-me à loucura. Não consigo ver as suas caras sem sentir desaprovação, medo e desprezo. Passaram mais cinco minutos. Levanto-me e saio sem dizer nada a ninguém. Pode ser que não notem que me fui embora.