Partida ou Longe daqui ou Deixo-te

02:47

Gelado, segue pela noite dentro feroz e de olhar confiante. Saí-me da frente que não estou para te ver. A cada passo uma corda rebenta, estrondo gritante, e o movimento segue sem parar. Pára, olha em todas as direcções, retoma a corrida que a partida não demora. O peso nas costas esmorece a vontade e adormece a garra. Mas continua. Não há como não o fazer. Não existisse mais ninguém e seria a vida perfeita.

Esqueço a última vez que esta necessidade me assombrou. Grita-me baixinho ao ouvido. Vem, vem ter comigo. Escravo contente, cativo da beleza do seu mestre. Talvez tenha sido há um mês, ou há um ano? Sim, sei que estava longe daqui. Arrepio. Quero voltar mas não sei como, não sei quando. A razão ainda me foge. Porquê? Não fosse esta memória selectiva, fraca de espírito, deixar-me-ia no meu canto, bolor que se acumula. Mas a vontade assustadora, que se revela nesta terrível fragmentação, puxa-me para outro lado qualquer. Vou-me embora que já não me querem aqui.

Sei que não quero. Biológica, física, psicologicamente. Não é uma escolha, disso estou certo, mas contínuo com uma possessiva noção de posse. Não consigo ouvir cada novidade sem pensar Não, não quero que sigas uma vida feliz., não quero que partilhes nada com ninguém. Nunca vou conseguir oferecer o que queria - pelo menos não durante muito tempo - mas também não sei se quero que alguém o faça por mim. Deixo-te partir, mas em segredo para que não o descubras. Pode ser que assim nunca me abandones.

Esquece-te de mim que na vida não vou longe.
Pena de mim que sou tão pobre.
Pena de mim que sou tão pobre.

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