A Retoma de Uma Vida II

22:30

Hoje trago ao lume mais lenha do passado. Não sei o porquê da escolha, mas pareceu-me correcta, certa, apropriada. Mais uma vez olho para alguns erros e, com eles, tento martirizar-me com o que já fui e continuo a ser. Não há nada que hoje possa dizer que não tenha já dito, por isso aqui ficam as palavras de ontem..., sempre me parecem melhores que o vazio.


20/08/2009 
Num dia sombrio uma pequena luz espreitava por entre as árvores caducas. "Ontem vi um monstro" disse a pequena luz quando me viu. "Ele disse-me que te ia apanhar!". Eu não pude acreditar no que ouvia e no que via. Custava-me a crer que tal coisa fosse possível, por isso virei costas ao que se revelava ser a minha consciência.
Num dia claro vi uma sombra a espreitar por entre as frondosas árvores. Não dei importância e continuei o meu impuro caminho. Ai ignorância a minha que não sabia que o que lá vinha me queria morder.
Era o tal monstro que prometera apanhar-me, que jurara esfolar-me. E eu corri, em vão, até ser capturado. "Posso saber porque me queres assim tanto?" perguntei eu corajosamente por entre as garras do monstro. "Esta é a minha natureza. É assim que eu sou, é assim que eu vivo!".
"Séculos de artificialidade humana e não conseguiste descobrir como fugir à Natureza?" O monstro olhou para mim com uma descrença na sua cara como quem não sabe o que se está a falar. "Sim, tudo o que eu utilizo hoje em dia é artificial e sem alma. Hoje vivemos a fugir à regra, hoje somos manufacturados, somos arranjados com ferramentas. Já não somos frutos da Natureza!" gritei assertivamente, com um estranho tom de arrogância.
O monstro aproximou a sua cara da minha e sussurrou "Prefiro ser um monstro do que não ter alma!"
O monstro deslizou as garras até ao meu ventre e abriu-o com uma facilidade alarmante e desconcertante. Era o meu fim natural, depois de uma vida artificial...
Pherreyra, Um Número de 1 a 1000

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