Frutos Velhos

03:04

Começo a sentir o Inferno a subir pelo estômago. Como calafrios quentes sempre suados, o estranho Verão estridente e cansativo apodera-se de mim. Fiz mal em ter deixado entrar apenas tão pouco. A noite vai ser complicada. Mas pensei que não houvesse problema em engolir a questão sem a mastigar previamente. Tudo indicava que o rápido trago, despreocupado com inundações de ingenuidade, me devia proteger dos males deste horrível belzebU. A quantidade... A quantidade é tão certeira quanto um pedido numa encruzilhada e o resultado talvez pior, talvez melhor, certamente igual. Num temos um ataque tenebroso, mas apenas a dez anos que virão; noutro um ataque repentino que não deixa mais que umas marcas momentâneas, talvez umas roupas sujas.

O sono começa a vir, depois de dois dias sem visita, pontadas na barriga, pernas, talvez pés, dormentes, mãos leves e flutuantes - tão perfeitamente feias - olhos revirados e pálpebras transparentes. Tenho vontade de vomitar a estrutura que me compõe e deixar-me escorregar no chão. Olhó exemplo, olhás irmãs. A cabeça bate, bate, mas não sai do lugar. Vejo caras de pau, vejo filhos da mãe.

Vejo cores como nunca tinha visto. Vejo cores que nunca tinha visto. Não lhes consigo dar um nome. A maior parte delas são amigas, as cores, poucas decidiram atacar-me com ferrões de merda que se deixam ficar na pele. A electrocussão corre-me o corpo com prazer.

Vou dormir. Vais crescer.

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1 palavra(s)
mordaz(es)

  1. André, está brutal. Brutalíssimo. Das melhores coisas que tenho lido tuas. E olha que são muitas. Deixas-me orgulhosa.

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