Rebento Nostálgico

18:39

Já me custa olhar-te de frente. Nunca sei se falas de mim ou para mim. De alguém, alguém que não sou. Já me custa olhar-te de frente porque o que dizes enche-me de vergonha. De mim mesmo, não de outrem aquém. Um triste que já não sabe reagir, nem olhar-te de frente.

Tenho vontade de dizer que sim. Que estou aqui. O erro que cometeria seria tremendo, vergonhoso. Tudo porque não sei se falas de mim ou para mim, assim como não sabes se eu falo de ti ou para ti. E caí no meu maior pecado. Mostrar-te o cerne horrível que, na horrenda realidade, sou. Triste suburbano, penso ter todos os males do mundo. Ocidental inferior, não sei agir, nem olhar para ti.

E agora mato-me. Mato-me porque não sei se te devo dizer o que quero. Porque não sei se quero dizer o que quero. Porque sei o que quero e não te quero a ti. Mas não me consigo ver livre... Livre não... Não de ti.

César Gouveia

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